O Tempo e o Amor.
“... Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo
digere, tudo acaba... São as feições como as vidas, que
não há mais certo sinal de haverem de durar pouco, que
terem durado muito. São como as linhas, que partem do
centro para a circunferência, que quanto mais continuadas,
tanto menos unidas. Por isso os antigos sabiamente
pintaram o amor menino; porque não há amor tão robusto
que chegue a ser velho. De todos os instrumentos com que
o armou a natureza o desarma o tempo. Afrouxa-lhe o
arco, com que já não atira; embota-lhe as setas, com que
já não fere; abre-lhe os olhos com que vê o que não via; e
faz-lhe crescer as asas, com que voa e foge. A razão
natural de toda esta diferença é porque o tempo tira
novidade às coisas, descobre-lhe os defeitos, enfastia-lhe o
gosto, e bastam que sejam usadas para não serem as
mesmas. Gasta-se o ferro com o uso, quanto mais o
amor?! O mesmo amar é causa de não amar e o ter amado
muito, de amar menos...
” Pe. Antonio Vieira.
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