E aí o que você está vendo?
uma mocinha linda...ou
uma velha nariguda?
Vamos ficar aqui horas tentando convencer os nossos pontos de vistas!
eu vejo uma linda jovem
não, eu vejo uma senhora nariguda, feia....
Os dois estão certos...depende do ponto de vista que focamos.
existe aí as duas imagens.
Muitas vezes falamos algo que realmente está certo de acordo com que vivemos, sentimos, experimentamos...mas, o outro não vai perceber por este prisma que você está vendo.
Daí, pode vir reações contrárias, frases mal ditas, discussões, brigas.....tudo acabado.
Mas, se o outro tiver um pouquinho de paciência e ouvir e começar a enxergar por um outro ângulo
vai acabar dando razões para o que você disse.E por consequencia , eu vou falar de uma maneira calma, tranquila: - dialogando - eis a solução. Perderam a calma...peça desculpas.
Por isso Jesus já dizia: não condene, não julgue, use de misericórdia....pois a medida que eu usar para os outros , vai ser a mesma usada para mim.
Reflita nisto: eu sou o dono da verdade....ou eu tento ver o ponto de vista do outro que também pode estar certo?
AME .....AME......e você não errará nunca.
Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar… Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil.
Diz Alberto Caeiro que… não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma. Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas.
Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia. Parafraseio o Alberto Caeiro: Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma. Daí a dificuldade…
A gente não aguenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor… Sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração… E precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor…
A gente não aguenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor… Sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração… E precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor…
Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade. No fundo, somos os mais bonitos…
Os pianistas, por exemplo, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio… Abrindo vazios de silêncio… Expulsando todas as idéias estranhas. Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala. Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio. Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois o outro falou os seus pensamentos… Pensamentos que ele julgava essenciais. São-me estranhos. É preciso tempo para entender o que o outro falou. O longo silêncio quer dizer: Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou. E, assim vai a reunião. Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia.
Texto de Rubem Alves